A coleção outono-inverno do pernambucano Melk nasceu em Fernando de Noronha, através da implementação de um projeto que tem como objetivo inserir o design em algumas associações, contribuindo para seu desenvolvimento.
Segundo o estilista, foi um mergulho literal na cultura local que possibilitou ao estilista observar o movimento das algas marinhas, das esponjas e dos corais. E, nesta visita ao fundo do mar, quase tudo remetia aos cabelos, que vieram nas estampas gráficas e viraram matéria prima na construção de casacos, cintos, fivelas, casacos, partes de vestidos.
Engana-se quem pensa, no entanto, que o designer partiu para o óbvio: apenas reproduzindo o que viu no fundo do mar e em um dos destinos de veraneio mais badalados de nosso país. Sua pesquisa foi além, mostrando um lado sombrio local: baseou-se na cultura brasileira, na lenda de Alamoa, existente desde o tempo em que a ilha era um presídio e os homens desejavam ser seduzidos pela mulher de longa cabeleira loura, que se transformava em caveira e os assassinava.
A temática refletida, pouco encontrada ainda na moda brasileira, traduziu-se em uma modelagem seca, mas diferenciada, com ombros volumosos e deslocados, recortes geométricos e cintura marcada.
Entre os materiais, o estilista utilizou não apenas cabelos sintéticos, mas outros tipos de pelo: lã de camelo, franjas de tapete, que traziam para a passarela o balanço, o movimento incessante do fundo do mar. Ainda, abusou da organza de seda, do tafetá cristal, de um cetim mais leve e tecidos de tapeçaria, criando texturas e volumes em quase todas as peças. Para arrematar, fez uso de pedrarias, trazendo um pouco do céu estrelado da ilha e dos plânctons do fundo do mar.
A coleção trouxe muitos vestidos: uns longos, outros curtos, mas todos muito trabalhados, com aplicações em lã, cabelo, em cores e estampas que lembram não só os elementos do fundo do mar (corais, movimento das ondas, peixes), mas também a areia da praia, os pássaros locais. Os casacos, feitos de pelos, trazem novidade: tranças, grampos, que permitem que o usuário o modifique de acordo com o seu gosto e humor, criando uma ligação afetiva com a peça.
Embora alguns afirmem que o estilista se dedica apenas a uma moda mais conceitual (na verdade, todas têm seu conceito...), verifica-se que muitas peças do inverno podem sair das passarelas e ganhar as avenidas, como o vestido longo que lembra o movimento das ondas do mar.