domingo, 16 de janeiro de 2011

"O inverno em Noronha de Melk Z-Da"





A coleção outono-inverno do pernambucano Melk nasceu em Fernando de Noronha, através da implementação de um projeto que tem como objetivo inserir o design em algumas associações, contribuindo para seu desenvolvimento.
Segundo o estilista, foi um mergulho literal na cultura local que possibilitou ao estilista observar o movimento das algas marinhas, das esponjas e dos corais. E, nesta visita ao fundo do mar, quase tudo remetia aos cabelos, que vieram nas estampas gráficas e viraram matéria prima na construção de casacos, cintos, fivelas, casacos, partes de vestidos.

Engana-se quem pensa, no entanto, que o designer partiu para o óbvio: apenas reproduzindo o que viu no fundo do mar e em um dos destinos de veraneio mais badalados de nosso país. Sua pesquisa foi além, mostrando um lado sombrio local: baseou-se na cultura brasileira, na lenda de Alamoa, existente desde o tempo em que a ilha era um presídio e os homens desejavam ser seduzidos pela mulher de longa cabeleira loura, que se transformava em caveira e os assassinava.

A temática refletida, pouco encontrada ainda na moda brasileira, traduziu-se em uma modelagem seca, mas diferenciada, com ombros volumosos e deslocados, recortes geométricos e cintura marcada.
Entre os materiais, o estilista utilizou não apenas cabelos sintéticos, mas outros tipos de pelo: lã de camelo, franjas de tapete, que traziam para a passarela o balanço, o movimento incessante do fundo do mar. Ainda, abusou da organza de seda, do tafetá cristal, de um cetim mais leve e tecidos de tapeçaria, criando texturas e volumes em quase todas as peças. Para arrematar, fez uso de pedrarias, trazendo um pouco do céu estrelado da ilha e dos plânctons do fundo do mar.

A coleção trouxe muitos vestidos: uns longos, outros curtos, mas todos muito trabalhados, com aplicações em lã, cabelo, em cores e estampas que lembram não só os elementos do fundo do mar (corais, movimento das ondas, peixes), mas também a areia da praia, os pássaros locais. Os casacos, feitos de pelos, trazem novidade: tranças, grampos, que permitem que o usuário o modifique de acordo com o seu gosto e humor, criando uma ligação afetiva com a peça.

Embora alguns afirmem que o estilista se dedica apenas a uma moda mais conceitual (na verdade, todas têm seu conceito...), verifica-se que muitas peças do inverno podem sair das passarelas e ganhar as avenidas, como o vestido longo que lembra o movimento das ondas do mar.


















quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

"O doce lar de Alessa."

A coleção da estilista e publicitária Alessa, para o inverno 2011, foi denominada "Doce Lar" e se refere não apenas ao conforto de nossos próprios lares (das nossas cozinhas fartas de delícias gastronômicas), mas também ao aconhego da cidade maravilhosa: nosso Rio da Janeiro.
Sua pretensão foi, através da moda, que é sem dúvida um dos veículos mais fortes de comunicação, apresentar looks que nos contaminassem, polvilhassem, granulassem, recheassem com alegria, humor, calor, conduzindo-nos ao passado, à infância em que nos deliciávamos com os doces e bolos de nossas prendadas avós (a minha criava bolos-cenários com balas, chocolates, confetis, gelatina, fios de ovos).

Lembranças à parte, a cartela de cores saiu da mistura de ingredientes: chocolate, caramelo, pistache, cereja, vinho, confetis, glacês, jujubas, fotografados na cozinha da casa da designer. As guloseimas ultra-coloridas (cupcakes tão na moda, bombons, balinhas, M&Ms) viraram estampas lúdicas, enquanto os canutilhos e paetês representavam os granulados.

Alessa criou macacões bem confortáveis (semelhantes àqueles que as crianças usam para dormir) e os polvilhou com paetês. Sobre eles, jogou, casacos transpassados, que mais pareciam robes, penhoares de tule transparente. Depois, misturou pelúcias desgastadas que, embora não se mostrem muito atraentes, trazem para as passarelas aquele clima de conforto de dentro de casa, das nossas roupas batidas, surradas. A intenção parece clara quando olhamos para os pés das modelos: com as ankles boots que muito lembram os chinelos divertidos e quentinhos de quarto.

O conforto também evidenciou-se nos vestidos, muitos deles longos e "confeitados", em cetim e crepe de seda. Enquanto alguns vinham soltos pelo corpo, com mangas morcego bem amplas, outros eram presos na cintura e tinham largos babados. Algumas peças em malha estampada, mais coladas ao corpo, serviam como plataforma para a sobreposição de peças, bastante presente em toda a coleção.

O lado "criança gulosa em festa" prevaleceu também nos acessórios. Os colares de jujuba, de confetis e cupcakes (com interjeições como "humm", "sim"), os óculos de gatinho (que a gente usa nas festas de casamento e formatura), a trilha sonora "Candy" (de Iggy Pop) e "Não é proibido" (de Marisa Monte) e o arco-íris "pão-de-açúcar" do cenário eram um convite explícito para que as mulheres se permitissem brincar, se soltar e ser feliz.