Nesta última sexta-feira, dia 03 de outubro de 2008, tivemos o privilégio de receber, em nossa universidade, a designer de produtos Baba Vacaro, que, de forma muito espontânea e gostosa, dividiu conosco não apenas a sua trajetória no design, mas também um pouquinho de sua história.
Baba formou-se em design de produtos, em uma época em que as pessoas sequer imaginavam para que serveria um designer. Contou que algumas pessoas achavam que o designer seria um tipo de “contador”, um “administrador de empresas”, e por isso o design não era ainda muito valorizado.
Deixou claro que viveu os horrores da ditadura, um momento em que nossos olhos foram praticamente fechados, e não tínhamos acesso à informação, nem tampouco sonhávamos com a internet. Para se conectarem com o mundo, os designers viajavam, trazendo informação e fazendo “tráfico de revistas e livros” entre eles.
Esclareceu que se inspirou no sucesso do design italiano que, depois da guerra, foi um dos responsáveis pela reconstrução da Itália, de uma forma bastante criativa. Um exemplo por ela mencionado foi o da criação da “vespa”, que solucionou o problema de locomoção e de falta de “grana” dos italianos, movimentando um país que queria fazer a diferença. Quem visita esse país sabe que o pequeno veículo faz sucesso até hoje.
Assim como a guerra na Europa, a ditadura também foi um atraso para o Brasil, que nos anos 50 vivera uma época em que a criatividade aflorava em todas as áreas, como ocorreu com a Bossa Nova que se espalhou por todo o mundo.
Depois de mais ou menos 20 anos parados, finda a ditadura, veio a queda do mundo de Berlim, e tudo mudou. Vivemos a abertura do mercado e passamos a consumir produtos importados que acreditávamos serem melhores que os nossos, talvez pelo nosso complexo de colonizados, que a Baba chamou “torcicolo cultural”. Com os avanços tecnológicos, seguiu-se a democratização da informação, ingressando em nossas vidas a internet.
Com toda essa mudança de cenário, houve modificações também no mercado, que, aos poucos, foi se tornando mais maduro e que, hoje, já se voltou para o consumo de produtos mais criativos e simbólicos.
Baba, então, passou a trabalhar em empresas que criavam produtos relacionados ao “morar”, percebendo que, na vida pós-moderna, muitas vezes, passamos o dia inteiro com a bunda grudada em uma cadeira. Esse objeto, portanto, faz parte de nossas vidas, como se fosse um prolongamento de nossos próprios corpos. Por esse motivo, além de a cadeira ser confortável e de cumprir a função para a qual foi criada, ela deve possuir algo a mais, um diferencial. Deve cumprir não apenas um papel estético e funcional, mas também emocional, expressivo.
Segundo Baba, se o objeto é criado para um determinado público, que tem determinados desejos e necessidades, devemos sempre colocar essas pessoas como referência e centro de nossa criação. Devemos nos perguntar, portanto, com quem a marca quer conversar. Afinal, temos muita responsabilidade ao desenvolvermos um produto para alguém.
Como designers, temos a missão de sempre melhorar a vida dos usuários de nossos produtos, fazendo-os mais felizes, tornando suas vidas mais fáceis e confortáveis. E, para isso, devemos decifrar a “alma” da marca para onde trabalhamos e do público para o qual criamos. Às vezes, até mesmo para recuperá-la, como aconteceu quando Baba ingressou na empresa Dominici, história que a designer nos relatou com todos os detalhes.
Também, contou que a marca “San James” trabalha com a simbologia da prata, dedicando-se a contar “histórias de bem-viver”. Para essa empresa, Baba cria produtos como jarras, bandejas, produtos de mesa em geral, que simbolizam os poucos momentos de relax que temos, sentados à mesa com a família, com os amigos, nos almoços, jantares e chás da tarde.
Em seguida, a palestrante deixou claro que hoje o design brasileiro está tentando resgatar o espírito criativo do design dos anos 50 (justamente a época da Bossa Nova). Lembrou da loja criada por Sérgio Rodrigues: a Oca, que foi o ponto de efervescência cultural do momento.
Segundo Baba, Sérgio foi um ícone para o mobiliário brasileiro, criando peças diferenciadas para preencher as construções modernas de Oscar Niemeyer. Um exemplo é a famosa “poltrona mole”, encomendada por um amigo fotógrafo que queria uma poltrona confortável, para poder se esparramar. Quem conhece a poltrona sabe muito bem que ela é a tradução da alma brasileira e do próprio Sérgio, o que mostra que os objetos são uma forma de expressar não apenas uma determinada cultura, onde o designer se insere, mas também uma “ressignificação”, uma “releitura” e uma “reescrita” desse designer.
Mas onde estaria a brasilidade em Baba? Ou ainda, em que objeto concebido por ela, estaria a sua alma? Justamente na “mandacaru”, que traz uma narrativa, parece a flor do sertão, mas tem a ver com o improviso brasileiro, com a flexibilidade e liberdade. Na verdade, são seis almofadas costuradas umas às outras, que expressam a simplicidade do povo brasileiro. Esse produto seria não apenas a alma do nosso povo, mas também a alma da designer.
Afinal, o design não deixa de ser uma forma de expressão, uma maneira própria de enxergar um produto, que evidentemente traduz todo o repertório do designer, o pano de fundo em que ele vive, a cultura da qual ele é produto e que ele transforma através de suas criações.
O bate-papo com Baba veio a confirmar o que temos debatido e sedimentado nas salas de aula: a necessidade de colocar o homem como centro, como razão maior de nossa criação, pois o design não deve apenas ser funcional, estético, inovador. Os tempos da racionalidade terminaram, passando o design a ser um verdadeiro gesto cultural, devendo ressignificar, reler, reescrever, expressar e emocionar.
Baba formou-se em design de produtos, em uma época em que as pessoas sequer imaginavam para que serveria um designer. Contou que algumas pessoas achavam que o designer seria um tipo de “contador”, um “administrador de empresas”, e por isso o design não era ainda muito valorizado.
Deixou claro que viveu os horrores da ditadura, um momento em que nossos olhos foram praticamente fechados, e não tínhamos acesso à informação, nem tampouco sonhávamos com a internet. Para se conectarem com o mundo, os designers viajavam, trazendo informação e fazendo “tráfico de revistas e livros” entre eles.
Esclareceu que se inspirou no sucesso do design italiano que, depois da guerra, foi um dos responsáveis pela reconstrução da Itália, de uma forma bastante criativa. Um exemplo por ela mencionado foi o da criação da “vespa”, que solucionou o problema de locomoção e de falta de “grana” dos italianos, movimentando um país que queria fazer a diferença. Quem visita esse país sabe que o pequeno veículo faz sucesso até hoje.
Assim como a guerra na Europa, a ditadura também foi um atraso para o Brasil, que nos anos 50 vivera uma época em que a criatividade aflorava em todas as áreas, como ocorreu com a Bossa Nova que se espalhou por todo o mundo.
Depois de mais ou menos 20 anos parados, finda a ditadura, veio a queda do mundo de Berlim, e tudo mudou. Vivemos a abertura do mercado e passamos a consumir produtos importados que acreditávamos serem melhores que os nossos, talvez pelo nosso complexo de colonizados, que a Baba chamou “torcicolo cultural”. Com os avanços tecnológicos, seguiu-se a democratização da informação, ingressando em nossas vidas a internet.
Com toda essa mudança de cenário, houve modificações também no mercado, que, aos poucos, foi se tornando mais maduro e que, hoje, já se voltou para o consumo de produtos mais criativos e simbólicos.
Baba, então, passou a trabalhar em empresas que criavam produtos relacionados ao “morar”, percebendo que, na vida pós-moderna, muitas vezes, passamos o dia inteiro com a bunda grudada em uma cadeira. Esse objeto, portanto, faz parte de nossas vidas, como se fosse um prolongamento de nossos próprios corpos. Por esse motivo, além de a cadeira ser confortável e de cumprir a função para a qual foi criada, ela deve possuir algo a mais, um diferencial. Deve cumprir não apenas um papel estético e funcional, mas também emocional, expressivo.
Segundo Baba, se o objeto é criado para um determinado público, que tem determinados desejos e necessidades, devemos sempre colocar essas pessoas como referência e centro de nossa criação. Devemos nos perguntar, portanto, com quem a marca quer conversar. Afinal, temos muita responsabilidade ao desenvolvermos um produto para alguém.
Como designers, temos a missão de sempre melhorar a vida dos usuários de nossos produtos, fazendo-os mais felizes, tornando suas vidas mais fáceis e confortáveis. E, para isso, devemos decifrar a “alma” da marca para onde trabalhamos e do público para o qual criamos. Às vezes, até mesmo para recuperá-la, como aconteceu quando Baba ingressou na empresa Dominici, história que a designer nos relatou com todos os detalhes.
Também, contou que a marca “San James” trabalha com a simbologia da prata, dedicando-se a contar “histórias de bem-viver”. Para essa empresa, Baba cria produtos como jarras, bandejas, produtos de mesa em geral, que simbolizam os poucos momentos de relax que temos, sentados à mesa com a família, com os amigos, nos almoços, jantares e chás da tarde.
Em seguida, a palestrante deixou claro que hoje o design brasileiro está tentando resgatar o espírito criativo do design dos anos 50 (justamente a época da Bossa Nova). Lembrou da loja criada por Sérgio Rodrigues: a Oca, que foi o ponto de efervescência cultural do momento.
Segundo Baba, Sérgio foi um ícone para o mobiliário brasileiro, criando peças diferenciadas para preencher as construções modernas de Oscar Niemeyer. Um exemplo é a famosa “poltrona mole”, encomendada por um amigo fotógrafo que queria uma poltrona confortável, para poder se esparramar. Quem conhece a poltrona sabe muito bem que ela é a tradução da alma brasileira e do próprio Sérgio, o que mostra que os objetos são uma forma de expressar não apenas uma determinada cultura, onde o designer se insere, mas também uma “ressignificação”, uma “releitura” e uma “reescrita” desse designer.
Mas onde estaria a brasilidade em Baba? Ou ainda, em que objeto concebido por ela, estaria a sua alma? Justamente na “mandacaru”, que traz uma narrativa, parece a flor do sertão, mas tem a ver com o improviso brasileiro, com a flexibilidade e liberdade. Na verdade, são seis almofadas costuradas umas às outras, que expressam a simplicidade do povo brasileiro. Esse produto seria não apenas a alma do nosso povo, mas também a alma da designer.
Afinal, o design não deixa de ser uma forma de expressão, uma maneira própria de enxergar um produto, que evidentemente traduz todo o repertório do designer, o pano de fundo em que ele vive, a cultura da qual ele é produto e que ele transforma através de suas criações.
O bate-papo com Baba veio a confirmar o que temos debatido e sedimentado nas salas de aula: a necessidade de colocar o homem como centro, como razão maior de nossa criação, pois o design não deve apenas ser funcional, estético, inovador. Os tempos da racionalidade terminaram, passando o design a ser um verdadeiro gesto cultural, devendo ressignificar, reler, reescrever, expressar e emocionar.
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