Na semana passada, tive a oportunidade de assistir ao filme brasileiro "Linha de passe", de Walter Salles, que está em cartaz em várias salas de cinemas da cidade.
Trata-se do retrato de uma família de classe baixa, que mora na zona leste de São Paulo, e que vivem em um impasse. Mostra a vida de quatro irmãos, com seus sonhos e ilusões, com suas certezas e contradições, com suas alegrias e tristezas, com suas verdades e mentiras, com sua força e suas fraquezas...
Entre os personagens principais, temos o irmão menor, ligeiro, esperto, que passa o filme inteiro em busca do pai não conhecido, o jogador de futebol, que sonha em tornar-se profissional, o motoboy que já é pai, mas ainda é irresponsável e acaba entrando para o mundo da criminalidade, e também o "crente", que é colocado em uma situação limite e agride o chefe, depois de ser por ele maltratado e injustiçado. Por fim, temos a mãe deles todos, que trabalha como empregada doméstica e está novamente grávida ninguém sabe de quem.
O filme mostra todas as pressões do dia-a-dia vividas por cada um dos personagens, que são colocados em uma "linha de impasse". Mostra as dificuldades porque passam todos eles, em um país sem muitas oportunidades. Também, de alguma forma, discute a questão da grande natalidade, nos locais mais pobres, mais carentes.
Através de interpretações brilhantes, vivemos a dor e as desilusões de cada um dos personagens, ficando clara a dureza da vida de milhões de brasileiros...
"A festa de Abigaiu" (por Fernanda Cury)
A peça "A festa de Abigaiu", do autor Mike Leigh, dirigida por nosso professor Mauro Baptista Vedia, em cartaz no Teatro Augusta, foi muito elogiada pela "Vejinha" São Paulo, e é um bom programa para quem quer dar boas risadas embaladas pelo humor negro.
Trata-se de um retrato da década de 70, no auge do consumismo de massa e da cultura pop, mostrando ainda a crise porque passa a instituição do casamento, em todas as classes sociais, e principalmente na classe média.
Os personagens trazem à tona, através de vozes e falas caricaturadas (que são propositais e deixam a peça ainda mais interessante), suas vidinhas vazias e comuns, sem muita graça, sem nenhuma emoção, seu individualismo, sua insatisfação no casamento, a competição...
Embora pareça uma peça bobinha, sem conteúdo, que causa muitos risos, fica claro o tom de crítica, de denúncia, inserido no texto... Vale a pena assistir...
Acabo de sair do cinema e ainda estou impressionada... Ando pelo shopping Frei Caneca, refletindo sobre "Ensaio sobre a cegueira"... Um filme fantástico de Fernando Meirelles, que é uma adaptação do livro de Saramago.
Arrepia pensar como algumas pessoas sabem mesmo desnudar as almas humanas, arrancar suas máscaras, mostrar o íntimo do homem, com os seus defeitos, com as suas fraquezas, com a sua verdade. Se Machado de Assis é um grande analista da alma humana, o mesmo podemos dizer de Saramago, que, em seu ensaio, coloca os homens em situação limite, fazendo com que eles sejam obrigados a mostrar a sua face.
Fernando Meirelles traduz em imagens a reação dos homens a uma epidemia de cegueira, que, aos poucos, torna-se coletiva... Os primeiros infectados são trancaviados para que não transmitam a doença para mais ninguém e passam a viver em condições sub-humanas. Nesse inferno, para piorar ainda mais a situação, surge uma liderança maligna que tortura os demais, privando-os dos alimentos... Primeiro, as pessoas são obrigadas a abrir mão de seus bens para receberem parte dos alimentos. Findos os bens, obrigam as mulheres a lhes servirem sexualmente para que todos possam comer...
A situação se torna insustentável quando uma das mulheres é morta "a porradas", porque é meio "mosca morta" na cama... Isso gera uma revolta tão grande que a esposa do médico, que se fingiu de cega, mas era imune à doença, acaba praticando um homicídio...
Bem, não vou contar todo o filme, senão, evidentemente, perderá toda a graça... Mas corra ao cinema... Vale a pena assistir a esse filme e refletir acerca das mazelas humanas... A cegueira é apenas uma metáfora para que possamos pensar e repensar o ser humano, em situações limites a que estamos sempre sujeitos...
Quem não assistiu ao filme brasileiro "Os desafinados", assista! Não sei se eu estava em um dia um pouco mais sensível, mas devo confessar que me emocionei em diversas passagens do filme e chorei, chorei, chorei...
Não preciso dizer que Seltom Melo, Rodrigo Santoro e Claúdia Abreu dão um show de interpretação... Não é de hoje que acho os três fantásticos... Mas os conflitos vividos pelos personagens foram vividos por mim, também, naquelas duas horinhas no cinema.
Engraçado... Sempre fui ultra-romântica... Uma grande sonhadora... Acreditava em histórias de amor como ninguém... Vivi muitas... Apaixonei-me milhões de vezes e sofri tantas outras... Por isso, senti a dor e a alegria de cada um dos personagens... Inundei-me com todos os sentimentos que podem nos povoar a alma em tão poucos minutos...
Talvez tenha sentido saudades... Saudades dos momentos mágicos que já passei... Saudades do romantismo invadindo a minha vida e me renovando... Saudades das loucuras e das coisas ridículas que já fiz por amor... Saudades de alguém cantando para mim, no meio da rua... Saudades de um amor para a vida inteira que nunca tive...
Não direi nada acerca desse filme, porque, talvez, para quem nunca amou, para quem nunca sofreu, para quem nunca sentiu saudades, o filme não faça o menor sentido... Mas ele deixou claro para mim que, no amor, inexiste certo ou errado... Existe apenas o sentimento, pulando dentro da gente, querendo sair...
Talvez você pergunte: mas onde é que fica, nessa história toda, a bossa nova? Pois eu te respondo: nas belas canções impregnadas pelos mais vívidos sentimentos...
Entre 15 de julho a 24 de agosto de 2008, tivemos uma exposição muito especial na Oca e no Pavilhão Bienal, no Parque do Ibirapuera: "Bossa 50", que trouxe a nostalgia de um tempo em que eu ainda não era sequer um projeto de vida...
Quem não foi, perdeu... Mas se quer voltar a esse tempo, pode assistir ao documentário de Vinicius de Moraes, que podem ser encontrados nas locadoras de vídeo (nossa, isso ficou ultrapassado...). Outra opção é pegar uma sessão de cinema com os "Desafinados", que fala da Bossa Nova. Ou ainda, pegar uma ponte aérea e fazer o circuito da Bossa, tomando um choppinho no Garota de Ipanema, ou no Vinícius... E passear pelo verdadeiro calçadão de Copacabana...
Alguns elementos chamaram muito a minha atenção nessa exposição. Primeiro, a linha do tempo montada logo no início da exposição, que trazia não só a história da Bossa, mas também a história do próprio Brasil. Também, maravilhosos os discos gigantes onde poderíamos nos deliciar com os grandes destaques desse ritmo que encantou não só o Brasil, mas se espalhou pelo mundo.
Deliciei-me, no entanto, ao ingressar na sala preenchida pela vida e pela poesia de Vinícius de Moraes. Artista movido pela paixão, viveu intensamente cada segundo de sua existência. As mulheres que amou (e também as que não amou) serviram de inspiração para a sua música poética...
Outro ponto forte da exposição, sem dúvida alguma, foi o calçadão de Copacabana... E a areia, que era um convite a tirar os sapatos e caminhar até o mar... Falando em mar... Como é que não fizeram uma projeção do mar, ao fundo... Seria tão mais poético...
Também, já no prédio da Bienal, curtimos a coleção desenhada pelo mineiro Ronaldo Fraga, que, além de lírica, também vinha acompanhada de música. É sério... Foram adaptadas caixinhas de som nas vestimentas, que pareciam bailar ao ritmo da Bossa.
Como sou apaixonada por objetos, ainda me apaixonei pelos rádios de todos os tipos, modelos e época, expostos logo na entrada da Bienal... Um show que valia muito a pena ser visto...
"A alma imoral" (por Fernanda Cury)
"A alma imoral" (por Fernanda Cury)
Embora muita gente freqüente a Livraria Cultura, do Conjunto Nacional (Paulista), pouca gente se dá conta de que ela abriga também um teatro. E mais que isso, a peça atualmente em cartaz é um convite à reflexão.
"A Alma Imoral" é uma adaptação que a atriz Clarice Niskier realizou para o livro de Nilton Bonder, um best-seller que alguns afirmariam tratar-se de um livro de auto-ajuda. Confesso não conhecer a obra de Bonder, mas posso afirmar que o monólogo de Clarice fica longe de ser assim rotulado, pois é uma "reescrita" que não traz fórmulas prontas, mas nos faz repensar, questionar nossas crenças e nossos valores.
Clarice se apresenta como uma "judia budista", mostrando que, apesar de acreditarem que isso é impossível, essa condição é perfeitamente viável, não havendo impedimento algum para que isso aconteça.
Engenhosamente, discute o que é moral e imoral, o que é certo e errado, usando textos bíblicos e filosóficos, fazendo-nos compreender que, às vezes, o certo é errado, e o errado, certo, ou que o imoral é moral e a moral, imoral.
Talvez você esteja pensando que isso pode dar um nó na sua cabeça... E pode mesmo... Mas não se preocupe... Já no início da peça, Clarice deixa claro que, se precisar, basta que você repita um trecho daquilo que foi apresentado e ela o repete... Assim, se você se perder no emaranhado de seus pensamentos, poderá retomar de onde parou...
De qualquer forma, identifiquei-me muito com as falas de Clarice, que trouxe à tona, muitos dos questionamentos que já habitaram minha alma e, em alguns momentos, confesso, até mesmo chorei, não conseguindo conter minhas emoções.
Assistam! Vale muito à pena, porque acrescenta...
"O sonho de Cassandra" (por Fernanda Cury)
"Estômago" (por Fernanda Cury)
"O sonho de Cassandra" (por Fernanda Cury)
Para quem gosta dos filmes de Woody Allen e, como eu, curtiu um dos últimos: "Match Point", a dica é assistir ao que está em cartaz nos cinemas: "O sonho de Cassandra", que estreou na última semana e conta com bons atores como Ewan McGregor e Colin Farrell.
Não estragarei o filme, contando começo, meio e final, como costumamos fazer. Se ficarem muito curiosos, leiam as resenhas. Apenas direi que Woody Allen, mais uma vez, apresentou o ser humano como ele é, cheio de virtudes, mas também defeitos, fazendo-nos lembrar dos personagens descortinados sem nenhum pudor por Machado de Assis, um dos melhores analistas da alma humana.
Os personagens envolvidos na trama não são mocinhos nem bandidos, não representam o bem ou o mal. Apenas representam o ser humano em toda a sua inteireza e complexidade. Pessoas com desejos, sonhos, problemas, ilusões, desilusões, dúvidas, crenças, e que são colocados em situações limite e reagem, cada qual, a seu estilo.
Alguns podem até mesmo condenar os personagens dessa história, que tem um pitada de bizarro, mas será que existe mesmo essa divisão exata entre certo e errado? Será que somos santos? Nunca cometemos nem cometeremos pecados? Nem nos nossos íntimos? Conhece bem os seus limites? O seu preço?
Esse filme nos faz refletir acerca dos anjos e demônios que povoam as almas humanas, sobre a efemeridade e fragilidade do corpo humano, sobre as situações limite, sobre as nossas escolhas, sobre o nosso imprevisível mundo interno.
Se quiser conhecer as duas faces desses dois jovens irmãos, que, para realizarem seus sonhos e fugirem dos problemas, são obrigados a tomar uma irretratável decisão, chacoalhe o esqueleto e vá ao cinema. Acho que não irá se arrepender...
"A alma gráfica" (por Fernanda Cury)
"A alma gráfica" é o nome da exposição de desenhos de outro artista que vive no nordeste, Francisco Brennand (1927), e está sediada na Caixa Cultural São Paulo, no prédio do Conjunto Nacional até o dia 25 de maio de 2008.
Brennand possui uma oficina, pertinho de Recife, que funciona, ao mesmo tempo, como seu ateliê, como uma indústria de cerâmica e revestimentos, e ainda, como um museu, onde expõe, em um grande jardim e em galpões, mais de mil e duzentas esculturas feitas em argila queimada em alta temperatura e que têm um ar dramático, de mistério, pessimista, que quer expressar o belo terrível.
Mas ele não se dedica apenas à escultura. É artista mais completo, que domina todas as técnicas de pintura, misturando em suas obras momentos mágicos, climas inquietantes de sonhos, de exorcismo.
Nessa exposição, temos cerca de cinqüenta desenhos coloridos, que serviram de projeto para suas esculturas e que mostram um trabalho cheio de liberdade, força e ousadia. Seus traços, em alguns momentos, chegam até mesmo a ser rudes, mostrando um universo denso, dramático, misterioso da figura feminina, como no caso da obra acima, denominada "O seqüestro".
Segundo o crítico de arte Olívio Tavares de Araújo, seus desenhos "são produtos do universo vasto mas unitário de seu espírito, com suas crenças, seus pensamentos, seu talento, seus desejos, seus fantasmas, dúvidas, sofrimentos e remédios, que se têm manifestado com mais loquacidade e clareza na escultura (...)."
De fato, Brennand não esconde seu pessimismo, sua crença de que não há meios desse mundo corrupto, beligerante, melhorar... Não acredita que o ser humano é bom e tem em mente que o fatal não é representado apenas pela morte, mas também pelo sofrimento que vivenciamos, dia-a-dia.
São essas inquietações, essas dores, esse pessimismo, essa desilusão, que permeia toda a obra do artista, que cria metáforas para a violência, para o poder, para a mesquinhez, e faz emergir o belo, não do equilíbrio e da harmonia, mas do sinistro, do terrível, do expressivo.
Quem estiver caminhando pela Paulista, vale conferir a obra de Brennand. Além de ela poder servir de fonte de inspiração para futuros trabalhos, a exposição é de graça.
Brennand possui uma oficina, pertinho de Recife, que funciona, ao mesmo tempo, como seu ateliê, como uma indústria de cerâmica e revestimentos, e ainda, como um museu, onde expõe, em um grande jardim e em galpões, mais de mil e duzentas esculturas feitas em argila queimada em alta temperatura e que têm um ar dramático, de mistério, pessimista, que quer expressar o belo terrível.
Mas ele não se dedica apenas à escultura. É artista mais completo, que domina todas as técnicas de pintura, misturando em suas obras momentos mágicos, climas inquietantes de sonhos, de exorcismo.
Nessa exposição, temos cerca de cinqüenta desenhos coloridos, que serviram de projeto para suas esculturas e que mostram um trabalho cheio de liberdade, força e ousadia. Seus traços, em alguns momentos, chegam até mesmo a ser rudes, mostrando um universo denso, dramático, misterioso da figura feminina, como no caso da obra acima, denominada "O seqüestro".
Segundo o crítico de arte Olívio Tavares de Araújo, seus desenhos "são produtos do universo vasto mas unitário de seu espírito, com suas crenças, seus pensamentos, seu talento, seus desejos, seus fantasmas, dúvidas, sofrimentos e remédios, que se têm manifestado com mais loquacidade e clareza na escultura (...)."
De fato, Brennand não esconde seu pessimismo, sua crença de que não há meios desse mundo corrupto, beligerante, melhorar... Não acredita que o ser humano é bom e tem em mente que o fatal não é representado apenas pela morte, mas também pelo sofrimento que vivenciamos, dia-a-dia.
São essas inquietações, essas dores, esse pessimismo, essa desilusão, que permeia toda a obra do artista, que cria metáforas para a violência, para o poder, para a mesquinhez, e faz emergir o belo, não do equilíbrio e da harmonia, mas do sinistro, do terrível, do expressivo.
Quem estiver caminhando pela Paulista, vale conferir a obra de Brennand. Além de ela poder servir de fonte de inspiração para futuros trabalhos, a exposição é de graça.
"Estômago" (por Fernanda Cury)
Se você ainda não assistiu ao filme brasileiro-italiano (trata-se de uma co-produção) "Estômago", assista. Trata-se de um roteiro que discute não apenas as relações de poder, em vários segmentos, como também dos relacionamentos afetivos.
O personagem principal é Raimundo Nonato, um sujeito simplório e ingênuo do nordeste, que vem tentar a vida na cidade grande (São Paulo). Como não tem outra opção, é obrigado a trabalhar para Zulmiro, dono de um bar decadente, que o explora a troco de cama e comida. De qualquer maneira, nesse boteco, o "paraíba" tem a oportunidade de aprender a cozinhar e conquista a prostituta gulosa Íria com as suas deliciosas coxinhas.
Mais tarde, o cozinheiro é descoberto por Giovani, dono de um restaurante próximo (Bocaccia), que descobre seus dons e o contrata, ensinando-lhe a arte da culinária e dos vinhos. Através da cozinha, Nonato ganha dignidade, passando a receber salário e a ter carteira assinada, quando decide pedir Íria em casamento.
Uma semana antes do noivado, Nonato descobre que a noiva tinha um caso com seu patrão. Depois de beber uma garrafa inteira de vinho, resolve matá-los, e, mostrando que aprendera bem as lições ministradas pelo chefe, frita e come um pedaço da bunda de sua ex (carne mais nobre).
Na vida nua e crua da cadeia, consegue cavar seu espaço, cozinhando para os companheiros de xadrez. Torna-se uma celebridade local e é intimado por Bujiu ("dono do pedaço") a preparar um banquete para um poderoso presidiário, o "Etc". Aproveita o ensejo para envenenar o "chefe" e tomar seu lugar.
Embora o roteiro não seja assim linear, alterando-se cenas em que o personagem está livre e solto, discute a relação de poder de uma maneira muito bem humorada. As cenas no presídio, embora um pouco nojentas e bem fortes, mostram as relações de poder, em que uns devoram e outros são devorados.
A linguagem dos personagens, recheada de "palavras de baixo calão" e erros de português, é muito divertida. O presídio é retratado de forma irônica, bem-humorada, mas real (corrupção, lei do mais forte, jogos de interesses). A culinária, tratada como verdadeira arte e como instrumento de poder, abre o apetite, embora, algumas vezes, faça-nos prometer que nunca comeremos nada nos botecos do centro da cidade. A atuação dos atores, todos eles ainda desconhecidos, é fantástica.
Por todos esses motivos, trata-se de um filme que vale ser visto, mostrando a trajetória da ingenuidade à malandragem, que foi aprendida com a dureza da via. Está em cartaz tanto no Shopping Frei Caneca, como no Espaço Unibanco.
Se você ainda não assistiu ao filme brasileiro-italiano (trata-se de uma co-produção) "Estômago", assista. Trata-se de um roteiro que discute não apenas as relações de poder, em vários segmentos, como também dos relacionamentos afetivos.
O personagem principal é Raimundo Nonato, um sujeito simplório e ingênuo do nordeste, que vem tentar a vida na cidade grande (São Paulo). Como não tem outra opção, é obrigado a trabalhar para Zulmiro, dono de um bar decadente, que o explora a troco de cama e comida. De qualquer maneira, nesse boteco, o "paraíba" tem a oportunidade de aprender a cozinhar e conquista a prostituta gulosa Íria com as suas deliciosas coxinhas.
Mais tarde, o cozinheiro é descoberto por Giovani, dono de um restaurante próximo (Bocaccia), que descobre seus dons e o contrata, ensinando-lhe a arte da culinária e dos vinhos. Através da cozinha, Nonato ganha dignidade, passando a receber salário e a ter carteira assinada, quando decide pedir Íria em casamento.
Uma semana antes do noivado, Nonato descobre que a noiva tinha um caso com seu patrão. Depois de beber uma garrafa inteira de vinho, resolve matá-los, e, mostrando que aprendera bem as lições ministradas pelo chefe, frita e come um pedaço da bunda de sua ex (carne mais nobre).
Na vida nua e crua da cadeia, consegue cavar seu espaço, cozinhando para os companheiros de xadrez. Torna-se uma celebridade local e é intimado por Bujiu ("dono do pedaço") a preparar um banquete para um poderoso presidiário, o "Etc". Aproveita o ensejo para envenenar o "chefe" e tomar seu lugar.
Embora o roteiro não seja assim linear, alterando-se cenas em que o personagem está livre e solto, discute a relação de poder de uma maneira muito bem humorada. As cenas no presídio, embora um pouco nojentas e bem fortes, mostram as relações de poder, em que uns devoram e outros são devorados.
A linguagem dos personagens, recheada de "palavras de baixo calão" e erros de português, é muito divertida. O presídio é retratado de forma irônica, bem-humorada, mas real (corrupção, lei do mais forte, jogos de interesses). A culinária, tratada como verdadeira arte e como instrumento de poder, abre o apetite, embora, algumas vezes, faça-nos prometer que nunca comeremos nada nos botecos do centro da cidade. A atuação dos atores, todos eles ainda desconhecidos, é fantástica.
Por todos esses motivos, trata-se de um filme que vale ser visto, mostrando a trajetória da ingenuidade à malandragem, que foi aprendida com a dureza da via. Está em cartaz tanto no Shopping Frei Caneca, como no Espaço Unibanco.
A peça "A Mandrágora", de Nicolau Maquiavel, encenada pelo Grupo Tapa e em cartaz no Teatro Nair Bello (Shopping Frei Caneca), agradou bastante pela atuação de seus atores e conseguiu arrancar boas risadas da platéia.
Trata-se da história do jovem florentino Calímaco que conhece uma linda jovem casada e deseja ardentemente possuí-la. Para isso, alia-se a seu serviçal, a um malandro, a um frei e à mãe da moça, e passando-se por médico, promete ao tolo e horrendo marido da amada que, se ela tomar uma poção de mandrágora (uma planta afrodisíaca) e se deitar com um outro homem, provavelmente, estará curada.
Evidentemente, para atingir seus objetivos, nosso personagem se vale de muita lábia, estratégia e argumentação, deixando claro que o texto, aparentemente bobinho, pretende explorar a arte do envolvimento.
Quem quiser um programa light, gostosinho, ou tiver como intento entender um pouco mais acerca da técnica da argumentação e do convencimento maquiavélicos, certamente, achará a peça bem interessante.
A peça "A Mandrágora", de Nicolau Maquiavel, encenada pelo Grupo Tapa e em cartaz no Teatro Nair Bello (Shopping Frei Caneca), agradou bastante pela atuação de seus atores e conseguiu arrancar boas risadas da platéia.
Trata-se da história do jovem florentino Calímaco que conhece uma linda jovem casada e deseja ardentemente possuí-la. Para isso, alia-se a seu serviçal, a um malandro, a um frei e à mãe da moça, e passando-se por médico, promete ao tolo e horrendo marido da amada que, se ela tomar uma poção de mandrágora (uma planta afrodisíaca) e se deitar com um outro homem, provavelmente, estará curada.
Evidentemente, para atingir seus objetivos, nosso personagem se vale de muita lábia, estratégia e argumentação, deixando claro que o texto, aparentemente bobinho, pretende explorar a arte do envolvimento.
Quem quiser um programa light, gostosinho, ou tiver como intento entender um pouco mais acerca da técnica da argumentação e do convencimento maquiavélicos, certamente, achará a peça bem interessante.
Trata-se da história do jovem florentino Calímaco que conhece uma linda jovem casada e deseja ardentemente possuí-la. Para isso, alia-se a seu serviçal, a um malandro, a um frei e à mãe da moça, e passando-se por médico, promete ao tolo e horrendo marido da amada que, se ela tomar uma poção de mandrágora (uma planta afrodisíaca) e se deitar com um outro homem, provavelmente, estará curada.
Evidentemente, para atingir seus objetivos, nosso personagem se vale de muita lábia, estratégia e argumentação, deixando claro que o texto, aparentemente bobinho, pretende explorar a arte do envolvimento.
Quem quiser um programa light, gostosinho, ou tiver como intento entender um pouco mais acerca da técnica da argumentação e do convencimento maquiavélicos, certamente, achará a peça bem interessante.
Acabei de ler na "Vejinha" que o espetáculo teatral "Por uma vida um pouco menos ordinária", de Daniela Pereira de Carvalho, está voltando para São Paulo, depois de uma temporada no Rio de Janeiro, conferida pessoamente por mim.
A peça vale não apenas pela atuação brilhante de Dú Moscovis, mas também porque nos faz refletir acerca das frustrações que fazem parte não apenas da vida dos personagens, mas também do nosso próprio cotidiano.
No enredo, temos três personagens... Um músico desiludido, que está cansado da mediocridade, irritado por tocar, repetidamente, as mesmas composições. Ele representa os jovens sonhadores que, cedo, optam por uma profissão, mas acabam se desiludindo. Como ele não consegue suportar suas frustrações, acaba mergulhando no mundo das drogas... Seu fornecedor? Um policial corrupto, que também é usuário de drogas.
Ambos se drogam e acabam, por acidente, matando um vizinho desconhecido com um tiro. Tentam encobrir o delito, haja vista que estavam sob o efeito de entorpecentes, mas encontram a resistência da irmã do músico, que tenta convencê-lo a se entregar a polícia.
A peça não é nada leve. Discute como cada um reage às adversidades da vida. Uns entram em depressão e se fazem de vítima. Outros tentar fugir da realidade, fazendo uso de substâncias entorpecentes. E há também aqueles que se corrompem. Fala sobre as escolhas que a vida nos obriga a tomar a todo o momento.
O cenário é composto pela casa do músico e pelo bar falido de sua irmã. A passagem do tempo é mostrada através de grandes baldes pendurados por cordas e com um pequeno orifício, por onde escorre areia sobre os atores.
Acho que o que mais me tocou na peça foi o fato de ela tratar de assuntos tão atuais como depressão, solidão, drogas, competitividade, relações de poder e corrupção. Mostra um mundo jovem meio perdido, insatisfeito, exatamente como é o nosso. A todo instante, cobram-nos sucesso, mas não é tão fácil, hoje em dia, tornar-se o grande "destaque". Temos que conviver com o fato de sermos apenas medianos (com raras exceções)...
De qualquer forma, embora a peça seja um pouco pessimista, vale à pena assisti-la e pensar um pouco sobre os valores nela discutidos. Quem tiver interesse, o espetáculo reestreiou hoje, no Espaço Parlatões, na Praça Franklin Roosevelt.
Nenhum comentário:
Postar um comentário